Mário Soares e o Estado de Israel

Mário Soares deu ontem uma longa entrevista ao Diário de Notícias na sua casa do Vau, no Algarve. Li-a inteirinha à noite quando me fui deitar. E pensei no fim: decididamente, os media nacionais devem debater-se com uma grave falta de assunto pois só assim se explica indagar o que pensa alguém que jaz nas relíquias do passado e cuja opinião já para nada conta.

Para além de repetir o que sempre declarou (estamos esclarecidos há mais de duas décadas quanto à aversão que o ex-presidente da República vota ao Estado de Israel!) ainda acrescenta agora que o estado judeu está a “criar ódios sobre ódios”.

Mas que ódios? Poderá haver mais profundo ódio do que o de negar a um povo que tenha direito à sua existência, no território onde nasceu a sua civilização e de onde se viu obrigado a imigrar há mais de 2000 anos, sofrendo desde sempre perseguições inomináveis, sendo objecto de tentativas de genocídio e de extermínio (o holocausto, que o Irão diz nunca ter existido!) e continuando a lutar para ter direito a essa mesma existência?

Quem forçou, afinal, a construção do mais poderoso exército do Médio Oriente?

O ódio árabe, que sempre viu na criação do estado judeu uma chaga intolerável no rosto do seu universo e empurrou os israelitas para a necessidade de possuírem extraordinários meios de defesa! Desde 1948 que Israel está permanentemente em estado de guerra, ameaçado de extermínio por vizinhos centenas de vezes superiores em número e cercado por exércitos dezenas de vezes superiores ao seu. Os judeus mais não têm feito do que lutar pelo seu direito à existência.

Este Soares, decididamente, devia ser internado num qualquer lar de terceira idade que lhe tratasse das maleitas, pois a crer nas suas palavras na última campanha presidencial, onde sofreu um vexame perfeitamente evitável - nem o voto dos socialistas conseguiu obter! - , e como não dorme descansado desde o tempo que Cavaco está em Belém, o pobre deve estar à beira de um esgotamento nervoso e psíquico!